sábado, 31 de janeiro de 2009

Amor - um não sei quê...

"É um nada amor que pode tudo,
É um não se entender o avisado,
É um querer ser livre e estar atado,
É um julgar o parvo por sisudo;

É um parar os golpes sem escudo,
É um cuidar que é e estar trocado,
É um viver alegre e enfadado,
É não poder falar e não ser mudo;

É um engano claro e mui escuro,
É um não enxergar e estar vendo,
É um julgar por brando ao mais duro;

É um não querer dizer e estar dizendo,
É um no mor perigo estar seguro,
É, por fim, um não sei quê, que não entendo."


Anónimo do século XVII,
in Viale Moutinho, O Amor na Poesia Portuguesa

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Véspera do amor

"Todos os dias são vésperas
de um grande, grande amor.
O único. O raro. o irrecusável.
O histórico.
Aquele que nos atira de pantanas
para o Céu ou para o Inferno
mas nos absolve deste exílio
amassado na Terra-lama".


Alice Fergo, in Versos de Água
Universitária Poesia

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Quem é que não acredita no amor à primeira vista?

Também nós, também nós...foi assim, apesar de tudo indicar que A e B nunca se poderiam ter apaixonado.





quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

amor à primeira vista

Podemo-nos enamorar de repente, até em poucos dias, inclusivamente em poucas horas, duma pessoa que nunca vimos antes.
A essa experiência dá-se o nome de amor à primeira vista. Tivemos um exemplo típico disto no caso de O homem de Turim para quem tudo se alterou no decurso de uma noite. Estudando outros casos de amor à primeira vista, apercebi-me, no entanto, que normalmente isto só acontece depois dum determinado número de explorações, depois de uma série de tentativas e erros.

Vê-se isso muito bem no caso a que chamarei O homem ambicioso, um empresário que casara com uma mulher feiinha mas muito rica e que atingiu o cimo duma instituição na companhia de um aventureiro sem escrúpulos. Tem poder, prestígio, riqueza e vive rodeado de mulheres muito belas que fazem com que a sua mulher lhe pareça insignificante. Ele engana-a. E ela, em compensação, de vez em quando foge de casa com os filhos. Depois o império do aventureiro desmorona-se e desmorona-se também o seu casamento. Sentindo-se livre, vai viver com uma mulher muito bonita e muito mais nova do que ele, mas acaba depressa. Tenta com outra, também esta jovem e vistosa. Mas sente-se sozinho e vazio. Nesta altura encontra um amigo que lhe propõe a entrada como sócio para a sua agência de publicidade. Ele aceita com entusiasmo. A nova actividade agrada-lhe, faz projectos, viaja muito. Um dia, no aeroporto de Roma, encontra uma lindíssima senhora alemã. Fazem a viagem juntos até Milão. É o amor à primeira vista. O homem ambicioso compreende, desconcertado, perturbado, que na sua vida nunca se enamorara realmente. Pensara sempre apenas no dinheiro e na carreira. Vira sempre as mulheres como troféus a exibir. Pelo contrário, este novo sentimento que sente agora é amor, e por este amor vale a pena lutar até ao fim. Segue-a por toda a Alemanha fazendo-lhe uma corte descarada, sem olhar a tempo, a dinheiro, sem parar, até que por fim ela se divorcia do marido e casa com ele. Um casamento bem sucedido. O caso de O homem ambicioso mostra-nos que o amor à primeira vista é realmente o último acto dum longo processo de procura, enquanto o indivíduo não atinge o grau de maturação necessária e não encontra a pessoa que corresponde às suas profundas exigências.

Momentos de descontinuidade. Mas a expressão «amor à primeira vista» é também usada com outro significado. Como momento mágico em que ficamos apanhados, arrebatados, fascinados. Nesta segunda acepção não coincide com o enamoramento, é apenas um momento do processo. Com efeito, em todos os enamoramentos, inclusivamente naqueles que se desenvolvem de forma gradual entre conhecidos e entre amigos, temos a impressão de que há um momento muito especial em que acontece a mudança. Como se se ligasse um interruptor, como se se acendesse uma luz, como se caísse um véu. Daí expressões como tomber amoureux, fall in love.................


Nós resistimos sempre ao amor, ao impulso de nos deixarmos ir. Não percebemos os estímulos que nos solicitam. Mas há um momento em que abandonamos as defesas, nos abrimos, nos rendemos.
O que é então o amor à primeira vista? O fruto da decisão de abandono total, sem reservas, ao processo de fascinação.

(Francesco Alberoni) - Amo-te, Bertrand Editora

sábado, 10 de janeiro de 2009

As sem razões do Amor

"Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor."


Carlos Drummond de Andrade, in 'O Corpo'

domingo, 4 de janeiro de 2009

Aforística

Na minha dor imensa
Andei perdido pelo mundo;
E ouvi por toda a parte esta sentença,
Dum conceito profundo:

O amor é uma doença
Que pelos olhos se contrai;
Dos olhos desce aos lábios, e dos lábios
No coração descai.
Mas depois não há médicos, nem sábios
De lá nunca mais sai!

António Feijó in Poesias Completas
Caixotim Edições

VOCÊ MORA NO MEU CORAÇÃO

Eu te quero só para mim
Você mora em meu coração
Não me deixe só aqui
esperando mais um Verão.
Te espero, meu bem
Pra gente se amar de novo
Mimar você
Nas quatro estações
Relembrar
O tempo que passámos juntos
Bem bom viver
Andar de mãos dadas
Na beira da praia
Por esse momento
Eu sempre esperei.
Eu te quero só pra mim
Você mora em meu coração
Não me deixe só aqui
Esperando mais um Verão
Te espero, meu bem,
Pra gente se amar de novo
Mimar você
Nas quatro estações
Relembrar
O tempo que passámos juntos
Bem bom viver
Andar de mãos dadas
Na beira da praia
Por esse momento
Eu sempre esperei
Eu sempre esperei
Eu sempre esperei
Eu sempre esperei
Eu sempre esperei

Caetano Veloso

Jogo de sedução

"Ele"
Ah! Como és bela, minha amiga!
Como são lindos os teus olhos de pomba!

"Ela"
Ah! Como é belo o meu amado! E como é doce,
como é verdejante o nosso leito!
Cedros são as vigas da nossa casa,
e os ciprestes, o nosso tecto.

"Ele"
Tal como um lírio entre cardos
é a minha amada entre jovens.

"Ela"
Tal como a macieira entre as árvores da
floresta
é o meu amado entre os jovens.
Anseio sentar-me à sua sombra,
que o seu fruto é doce na minha boca.

Cântico dos Cânticos 1,15-17;2.2-3

Anuncia-se a Primavera

Levanta-te! Anda, vem daí,
Ó minha bela amada!
Vês que o Inverno já passou,
a chuva parou e foi-se embora;
despontam as flores na terra,
chegou o tempo das canções,
e o cantar da rola
já se ouve na nossa terra;
a figueira faz brotar os seus figos
e as vinhas floridas exalam
perfume.
Levanta-te! Anda, vem daí,
ó minha bela amada!
Minha pomba, nas fendas dos rochedos,
no escondido dos penhascos,
deixa-me ver o teu rosto,
deixa-me ouvir a tua voz.
Pois a tua voz é doce
e o teu rosto encantador.

Cântico dos Cânticos

sábado, 3 de janeiro de 2009

Não posso amar

"Não posso amar
sem imaginar
o meu desejo
de haver destino na Tempestade...

A realidade
não é o que vejo...
Mas o que imagino
para ser verdade."


José Gomes Ferreira, Poesia II, Portugália

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Além da Terra, além do Céu

"Além da Terra, além do Céu,
no trampolim do sem-fim das estrelas,
no rastro dos astros,
na magnólia das nebulosas.
Além, muito além do sistema solar,
até onde alcançam o pensamento e o coração,
vamos!
vamos conjugar
o verbo fundamental essencial,
o verbo transcendente, acima das gramáticas
e do medo e da moeda e da política,
o verbo sempreamar,
o verbo pluriamar,
razão de ser e de viver."


Carlos Drummond de Andrade

Atitude

"Minha esperança perdeu seu nome...
Fechei meu sonho, para chamá-la.
A tristeza transfigurou-me
como o LUAR que entra numa sala.

O último passo do destino
parará sem forma funesta,
e a noite oscilará como um dourado sino
derramando flores de festa.

Meus olhos estarão sobre espelhos, pensando
nos caminhos que existem dentro das coisas transparentes.

E um campo de estrelas irá brotando
atrás das lembranças ardentes."



Cecília Meireles (Adaptado)