terça-feira, 23 de julho de 2013

VESTE-ME A SEDA


Veste-me a seda
Das tuas mãos
Serenas
Veste-me a roupa quente da tua pele
E aperta-me com o cinto dos teus braços
No lugar onde o meio traz cansaços.
Evita que, na ausência de ti, gele.

Recorta-me
Em pequenos pedaços
Ata-me em laços
E guarda-me no coração
Antes de saíres para o mundo
E bater no fundo
Da traição que te apetece.

        
 
Edgardo Xavier,

in AMOR DESPENTEADO (Casa das Cenas, 2007)

   

 

domingo, 21 de julho de 2013

Se me deixares


Se me deixares, eu digo
O contrário a toda a gente;
E, neste mundo de enganos,
Fala verdade quem mente.
Tu dizes que a minha boca
Já não acorda desejos,
Já não aquece outra boca,
Já não merece os teus beijos;
Mas, tem cuidado comigo,
Não procures ser ausente:
- Se me deixares, eu digo

O contrário a toda a gente.

 
  António Botto

 

sábado, 20 de julho de 2013

ADIVINHAS-ME

Sussurro-te uma frase inacabada
E tu desvendas no meu olhar,
Todo o restante mistério.

Adivinhas-me,
Por entre os dedos que te tocam
E que te escrevem.

E te descrevem...

Adivinhas-me,
Como adivinhas a melodia
Dos fios do meu cabelo,
Soltos numa brisa suave ao teu olhar.

Adivinhas-me,
O arrepio na pele
Quando percorres com as pontas dos dedos,
Os lábios que te beijam em silêncio.

E num sopro de um só sentimento,
Aprendeste a amar(me)
Como ninguém.


DANIELA S. PEREIRA,
in COM ALMA & OLHAR (Edium Ed., 2012)


sexta-feira, 19 de julho de 2013

Soneto do Amor Total


Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

 
Vinícius de Moraes

PERNOITAS EM MIM


Al Berto
Alberto Raposo Pidwell Tavares
Portugal1948 // 1997 Escritor
 
Pernoitas em mim
e se por acaso te toco a memória... amas
ou finges morrer

pressinto o aroma luminoso dos fogos
escuto o rumor da terra molhada
a fala queimada das estrelas

é noite ainda
o corpo ausente instala-se vagarosamente
envelheço com a nómada solidão das aves

já não possuo a brancura oculta das palavras
e nenhum lume irrompe para beberes

Al Berto, in 'Rumor dos Fogos' (1983),
 
in O Medo (Assírio & Alvim, 2000)