1
Sozinha no bosque
com meus pensamentos,
calei as saudades,
fiz trégua aos tormentos.
Olhei para a Lua.
que as sombras rasgava,
nas trémulas águas
seus raios soltava.
Naquela torrente
que vai despedida.
encontro assustada
a imagem da vida.
Do peito, em que as dores
já iam cessar,
revoa a tristeza,
e torno a pensar.
2
Como está sereno o céu,
como sobe mansamente
a Lua resplandecente
e esclarece este jardim!
Os ventos adormeceram;
das frescas águas do rio
interrompe o murmurio
de longe o som de um clarim.
Acordam minhas ideias,
que abrangem a Natureza;
e esta nocturna beleza
vem meu estro incendiar.
Mas, se à lira lanço a mão,
apagadas esperanças
me apontam cruéis lembranças,
e choro em vez de cantar.
3
Eu cantarei um dia de tristeza
por uns termos tão ternos e saudosos,
que deixem aos alegres invejosos
de chorarem o mal que lhes não pesa.
Abrandarei das penhas a dureza,
exalando suspiros tão queixosos,
que jamais os rochedos cavernosos
os repitam da mesma natureza.
Serras, penhascos, troncos, arvoredos,
ave, fonte, montanha, flor, corrente,
comigo hão-de chorar de amor enredos.
Mas ah! que adoro uma alma que não sente!
Guarda, Amor, os teus pérfidos segredos,
que eu derramo os meus ais inutilmente.
(Marquesa de Alorna - 1750-1839)
terça-feira, 14 de fevereiro de 2012
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